quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Fotografias do Espelho (Poesia)


Mapear todos teus poros, um por um,
Me aconchegar nas coxas e nos seios,
Sugar tua boca sem obstáculo algum,
Retirar com a língua os tolos receios.

Dentro de você deslizar pelo caminho,
Sentindo crescer ao seu toque certeiro,
Espalhar no teu corpo um doce vinho,
Sorvê-la completa, te secar por inteiro.

Lança esse olhar, afugenta tua razão,
Descansa liberta nesse abraço terno,
Em troca devolvo a minha explosão,
Vigio teu sono, seja verão e inverno.

Na luz ou sombra procuro teu calor,
No sexo desfrutamos nosso alimento,
Lambuzo no teu gozo, amado ardor,
Pois não encontrá-la é meu tormento.

Quero acampar no teu corpo quente,
Grudar nossa pele, nossa respiração,
Ser envolvido hoje, agora ou sempre,
Latejar em você até minha redenção.

Os lábios úmidos que me enlouquecem,
Ávidos chamam, sussurram, espreitam,
Num cantarolar mudo eles estremecem,
Nos desejos sinceros que nos permeiam.


Se encaixe em mim como quiser,
Fecha os olhos, entrega tua mão,
Cruzamos a estrada que convier,
Cultivando cegamente tal paixão.

Somos felizes, banhados de luar,
Sentimos saudades da eternidade,
Do horizonte, abraçamos ao mar,
Num beijo longo de cumplicidade.

Afaga este perigo, seduz esta tentação,
A vida enfim apontou nossos destinos,
No amor eterno cuido do teu coração,
Escute agora o surdo badalar dos sinos.
















quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Apoteose de Nós Dois (Poesia)


No lado sombrio da Lua,
Uma noite de apoteose,
Minha mão sentiu-a nua,
Mas não forçou a posse.

Foram caminhos, atalhos e vales,
Vias de toque, desejos e anseios,
Do cantar que cura nossos males,
Debrucei inteiro nesses canteiros.

Se era bem tarde me esqueci,
Mesmo cedo não te despertei,
Da claridade tola nos escondi,
Quando o seio sublime beijei.

O som distante da melodia,
O suave tom dos sucrilhos,
As bocas unidas nessa alforria,
As línguas livres em estribilhos.

Não havia certo e errado,
Ambos tinham sua razão,
Acordamos tarde lado a lado,
Do sonho repleto de emoção.

Explorar sem medo nosso destino,
Fazer o futuro adiante dar um fruto,
Realizar uma loucura ou desatino,
Um amor genuíno, em estado bruto.

Mas minha mão lapida a sua,
Meu corpo descansa no seu,
E na fé da fascinação mútua,
O coração que guardo é teu.



sábado, 22 de setembro de 2007

Feridas Abertas (Poesia)


Tantas perdas, uma Pedra,
Tanto dito, muita desdita,
Na garganta surge esse nó,
No coração bate outra dor,
Estamos sós, não há amor.

Não deviam ser lembranças,
Nem Chopin ou Morricone,
Adiamos todas as andanças
,
Longe deste arraial ou cabo,
Esperando na noite insone.

A luz do farol logo apagou,
Sumiu nosso porto seguro,
O incenso não ficará aceso,
Ao redor tudo está escuro,
A doce manhã não chegou.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Fórmulas de Amar (Poesia)


Quero redescobrir o cheiro da esperança,
Deixar para trás temperamentos aguados,
Perceber que um adulto pode ser criança,
Que os corações não ecoam abandonados.

Naquelas palavras dilacerei todo o sentido,
Rompi a casca, a polpa, libertei a semente,
Despachei qualquer ideal hoje corrompido,
Revelei o sentimento que sufocava latente.

À luz de velas, nos andares mais altos,
O vento chama e estremece as chamas,
A lua ensina aos corpos nus e exaustos,
A ausência de verdades quando se ama.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

As Tebas de Todos Nós (Poesia)


Em Tebas tremem os tiranos,

Almas libertadas sem dor,

Corpos cativos sem amor,

Na solidão dos falsos arcanos.


Ao vento o sopro, o ardor,

A espera dos sonhos contidos,

A cegueira dos fatos omitidos,

No tempo o preço, o temor.


Te busco nesse universo falido,

Não importa o passar dos anos,

Pois na terra governam insanos,

A Tebas de um coração partido.



quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Preço do Pecado

Uma das expressões mais interessantes do cotidiano brasileiro é o "fui absolvido". Ela nunca está na boca do Zé das Couves, da Maria Candelária ou do Moleque Tião. Geralmente ela sai de uma garganta adornada por um colarinho branco, empunhando um diploma universitário ou um mandato político.
Nossos dôtores e ôtoridades parecem deter o monopólio dela, entre tantos outros. Acontece que, aqueles que ainda são donos do monopólio pessoal de pensar, e exercem esse direito sagrado, sabem que uma coisa é ser inocentado, outra é ser inocente. O emérito senador Renan Calheiros escapou da culpa, o que não significa que deixe de ser culpado.
Entre sessões e intenções secretas a famigerada ética (aquela ultrapassada invenção dos gregos antigos) vai se transformando numa qualidade em extinção. Ela é caçada, atingida e estripada a cada semana, no bojo de todo escândalo que surge. E que em seguida desaparece. Aquela festa eleitoral majoritária, ao qual nos convocam a cada quatro anos, provoca ressaca por todos os anos seguintes. Apesar disso, o Zé das Couves sai cedo de casa, apanha a Maria Candelária que fez serão no trabalho e carregam o Moleque Tião para testemunhar a festa da democracia.
Às 17 horas, com a cidade imunda de santinhos e panfletos, a festa popular acabou e começa uma mais requintada. Toda regada à champanhe e caviar, cheia de gente elegante e bonita, ao menos nos olhos de quem deseja assim enxergar. Quatro anos estão garantidos para muitos, sem falar nos que, como o notável senador Renan Calheiros, abiscoitaram oito. Esses mesmos que não lhe tomaram hoje. Afinal, sob sete chaves, sem câmeras ou holofotes, ele foi absolvido.
Como não dispomos mais dos gregos de outrora para protestar, precisamos nos ater ao passado mais recente. Me lembro que nossos avós ensinavam que julgar as pessoas era errado. Que isso não se fazia, constituía uma coisa feia aos olhos de Deus, um pecado.
Entretanto, assim como os gregos e sua filosofia foram colocados de lado, hoje vou fazer igual com os ensinamentos familiares. Dessa forma, mesmo absolvido, afirmo que para mim aquele admirável senador Renan Calheiros é culpado, não merece meu respeito como homem público, doutô ou ôtoridade.
Se pensar assim é pecado, deve haver um preço. Verifica na tabela que eu pago por ele.

P.S. Quarenta votos a favor do Senador... Como era o nome daquele conto das Mil e Uma Noites? Ah, sim, Ali Babá e os 4o Ladrões!

Tess, Ross, Vince e Eu (Conto)

Os quinze minutos seguintes seriam os mais intensos e cruciais de toda a minha vida.
Neles, Tess diria o que sentia a meu respeito, Ross me traria um grave problema e Vince acabaria colocando ordem em tudo. Sem mencionar que, com suas peculiaridades, cada um proporcionaria uma enorme surpresa.
Enquanto remexia o gelo no fundo do copo vazio, vendo a maior leva de vagabundos desfilando ao meu redor, Tess surgiu do nada e se sentou como fosse dona da mesa. Os óculos escuros escondiam os olhos geralmente inchados e vermelhos. Os amigos dela diziam que era choro doído por velhos amores. Os que a detestavam apontavam a bebida e o pó como responsáveis. Ambos estavam errados, garanto. Tess era mesmo uma pessoa bem estranha.
-- Meu querido... Preciso confessar uma coisa... Hoje ou nunca!
As confissões de Tess me irritavam. Nunca ganhei nada com elas. Perdi sempre a minha preciosa paz de espírito, na verdade. Tudo bem que nós dois tivemos um namoro na adolescência. Relação firme, com cinema de mãos dadas na sexta e almoço em casa no domingo. No sábado, sempre tentei tirar a roupa dela, sem sucesso. Dei meu primeiro beijo nela, mas não consegui minha primeira transa. Ross foi o felizardo, mas isso é uma outra história.
-- Não está cedo demais para confissões, Tess?
-- Também está cedo para beber... Quantos copos você já esvaziou?
Não devia ter-lhe dado aquele beijo de calouro. Ficou um carinho inútil, que agora me impedia de mandá-la para a puta que a pariu. Suspirei e me enchi de paciência, na esperança de livrar-me dela rapidamente.
-- Pensei muito, querido. Muito mesmo, nos últimos anos.
Em tempo: Tess era uma loura natural. Pensamentos nunca foram feitos para seus cabelos anelados e sua cabeça oca. Sabem que isso não é preconceito, todos conhecem algumas platinadas que dão veracidade à lenda. Escutar que ela havia matutado algo através dos anos era surrealista, no mínimo. E olhem que nem sei o que isso significa, porém soa muito bem.
-- No que pensou, Tess? Na bobagem que foi não se despir todas as vezes que te pedi? Como teria sido bom perder a virgindade comigo?
-- Isso, meu amor. Exatamente isso. Bom ter facilitado para mim agora. Não sabia como achar as palavras adequadas.
Sentia-me tonto e enjoado, deslocado. Meu copo, como recordam, estava vazio. Os poucos trocados haviam acabado e tinha apenas os cubos de gelo para brincar. Assim, pude somente engasgar com o ar gratuito que circulava na minha garganta. Porra, loura ou não essa me pegou desprevenido.
-- Começo a achar que cheira e bebe, Tess. Não posso ser o tal amor antigo por quem dizem que choraminga.
-- Mas é verdade, querido! Você é o meu maior amor, sempre foi! Carreguei o sentimento todos esses anos. Resolvi te dar esse presente. Pelo seu aniversário. Te procurar nesse canto sujo de espelunca e falar o que sinto.
-- Meu aniversário foi há nove meses...
-- Eu sei. No dia não tive coragem. Porém decidi que de hoje não passaria. Eu gosto de você, sempre gostei. Queria ter tirado a roupa para você algum daqueles sábados.
Lembrei que estávamos num sábado e que ela se mostrava óbvia demais, de vários modos. As belas coxas ainda espocavam na bermuda justa e o decote se dava ao luxo, por boas razões, de exibir parte dos seios médios.
Tess era grandona e bem apetitosa, estilo mulherão, muito mais desenvolvida, lógico, do que na juventude, quando eu implorara por sexo. No entanto ela negara fogo. Acabara se guardando para Ross e nunca a perdoei por isso. Tornara-me amigo dele pelo motivo mesquinho de um dia dar o troco.
-- Você é maluca, Tess. Aluga outro, tá? Vai para sua seita...
Ela fez uma cara de pura rejeição, enquanto tirava os óculos e me fulminava com seu par de olhos injetados. Em seguida eles ficaram marejados, carregados de decepção. Podia ser um truque ou mero artifício, embora fosse muito bem feito. Sem dizer uma palavra ergueu-se e ocupou a mesa em frente.
Evitou me encarar, de modo que não havia como saber se aquele choro continuava. A parte de trás da vasta e longa cabeleira desgrenhada ocupava meu campo de visão. Tess podia até estar rindo de mim agora e não faria a menor idéia disso. De onde saíra aquela declaração com tanto tempo de atraso? E por que agora? Nem naqueles anos dourados ela se mostrara tão apaixonada assim. Entregara-se a Ross sem qualquer problema, pouco depois de terminarmos. Comigo nunca fez nada em dois anos. Com ele fez tudo logo no primeiro dia. No entanto, ainda havia uns coringas no bolso dela. Ou então ocultos na cabeleira, que balançava negativamente dois passos adiante.
-- Nunca entendeu meus sentimentos, cara. Não faz idéia do que passei por sua causa. Tudo inútil depois do que me disse. Você é um lixo, um total idiota. Não imagina como me sinto. Não passa de uma pessoa vazia.
Tess levantou-se sem virar o rosto. Partiu como chegou, rápida e silenciosamente. Não tive tempo de refletir sobre tudo aquilo, pois Ross veio por trás e capturou minha atenção. Também se acomodou ignorando qualquer cerimônia, de um jeito que podia ter sido combinado. Ele cultivara uma barba espessa e negra. Eu não o via há um mês, aproximadamente. Seus olhos eram límpidos e aguçados, não deixavam escapar nada. Percebeu meu copo vazio, o gelo derretido e num gesto discreto pediu ao garçom uma rodada para dois.
-- Tenho algo sério para conversar, amigo.
-- O que, Ross? Desde quando precisa de ajuda em sua vida?
Ele coçou a barba devagar, pensativo. Mediu bem suas palavras, com precisão cirúrgica. Seria minha segunda surpresa matinal.
-- Acho que desde que transei com a Tess e ganhei seu ódio.
Tive vontade de jogar a bebida na cara dele. Como não tinha mais grana e a goela estava seca, segurei a raiva. Outra vez conjeturei incrédulo sobre a razão de tudo aquilo. Primeiro Tess, depois Ross. Duas pessoas do meu passado rondando como mensageiros da fortuna. Depois de uma bizarra declaração tardia de afeto, arrematada por agressividade e recriminação, recebia um inusitado pedido de auxílio e clemência de um sujeito imune a isso.
-- Não fode, Ross. Está de sacanagem?
-- Sacanagem foi ter me dedurado para o Vince. Atrapalhou todo meu esquema por uma bobagem. Andou dois meses atrás fuçando minhas coisas, se metendo nos meus planos. Devia ter liquidado você, mas não posso.
Outra novidade, cacete. O traste se declarando incapaz de apagar alguém, troço que fizera inúmeras vezes. Começou a esticar a barba de modo nervoso, como se tivesse um compromisso urgente e o prendesse.
-- Não quero me indispor com você, camarada.
-- Não levou isso em conta antes.
-- Se refere a Tess, claro...
-- Isso te incomoda, Ross?
-- O que você acha? Desconfio que todas as coisas que andaram mal na minha vida tiveram sua participação. Na verdade, você é o incomodado com essa história. Guardou rancor desde a época.
-- E vocês são dois santinhos... Unidos no sexo e nas crenças. As aves do paraíso daquela seita maluca que participam. Uma piranha viciada e um meliante que tirou do caminho vários tipos da mesma laia. Hoje resolvem acertar suas contas comigo. Ela disse que me amava. E você, Ross? Quer o que, porra? Meu perdão? Danem-se os dois, não encham meu saco...
Ele, ao contrário dela, não chorou. Olhou-me seriamente, como quem entende algo profundo que escapa ao outro. Tragou de um gole o resto da bebida, limpando a boca na palma da mão. Ganhou o tempo necessário para ajeitar suas idéias confusas, porque não vi sentido algum na sua cantilena.
-- Ela me procurou para salvá-lo. Deve lembrar das bobagens que fez quando era jovem. Você se meteu com gente perigosa sendo um amador. Tess pediu para acobertá-lo. Cobrei meu preço, exigi o que me interessava. Vantagem de ser profissional. Fiquei na cama dela o suficiente até livrá-lo.
Observei-o incrédulo, lembrando do quanto podia ser cínico.
-- Por que tudo isso agora? Tantas revelações?
-- Não viemos por vontade própria. Nem eu, nem ela. Tem um grande problema adiante, amigo, quisemos aliviar um pouco suas angústias. Talvez seja a seita, como disse. Não prestamos, porém tentamos nos equilibrar.
Por uma fração de segundo, fechei os olhos para conter a raiva. A vontade era trucidá-lo com o que estivesse disponível, mesmo sendo os copos vazios daquela bebida vagabunda e barata, cheirando a formol. Quando procurei por ele, entretanto, havia desaparecido como Tess. Para minha terceira surpresa em seqüência, me deparei com Vince me apontando uma arma no meio da testa.
-- Acabou de rezar, vagabundo? Vai pagar por interferir nos meus assuntos. Aqueles trocados que torrou com biritas e vagabundas sairão caro.
-- O que é isso, Vince? Nem comecei, nunca rezo... Por que me aponta esse trabuco? O que há com todo mundo essa manhã? Dormiram mal?
-- Todos rezam na hora final, imbecil. Pediu quinze minutos para colocar as idéias em ordem antes de partir. Escolheu esse canto de boteco e concedi seu último desejo. Ficou de olhos fechados e murmurando o tempo todo. Não prestei atenção na sua reza, apenas no relógio. Tempo de ir.
-- Vince, não fiz nada... Já sei, foram os desgraçados da Tess e do Ross que me intrigaram contigo. Eles vieram me enrolar agora mesmo e...
-- Enrolar? Tess e Ross? Os dois desapareceram do bairro há meses, maluco. Depois que entraram na tal igreja mudaram de vida e saíram daqui, casados. Parece que morrer não está lhe fazendo bem, cara – gracejou.
Antes que protestasse pela minha vida, o clarão do disparo de Vince me levou de encontro à escuridão. Não senti nada, realmente. Quando meu corpo desabou já não me encontrava ali. Flutuava em meio às inúmeras reminiscências que compuseram minha vida, assistindo ao filme do qual era o astro principal. A história nada tinha de belo, no entanto era toda minha.
Enfim, Vince colocara mesmo ordem em tudo, acalmara minha confusão interior. O fizera por vias tortas, o que não era mais questão minha. Os perdões que não concedera a Tess e Ross teriam de esperar uma segunda chance. O de Vince precisaria aguardar que eu superasse os temas mundanos.
Talvez custasse uma eternidade, no entanto, naqueles últimos e cruciais quinze minutos existiram somente Tess, Ross, Vince e eu. Amém.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Na Mídia, Sem Temor

A hipocrisia virou um programa de TV, mais uma notícia de jornal. Jamais antes se mentiu tão descaradamente, com um ar tão superior ou natural. Para onde foi aquele tempo no qual ao ser desmacarado publicamente, o flagrado recorria até ao suicídio, tamanha sua vergonha?

Tudo bem, não chega a ser necessário radicalizar, mas é preciso dissimular tanto? A impressão é que querem nos tornar os súditos que assistem ao rei desfilar nu, considerando que ele está ricamente trajado.

Me incomoda muito nessas horas os politicamente corretos. aqueles que dizem que não devemos generalizar, culpar a totalidade pelos desatinos de uma minoria. Engraçado isso. Aprendi na escola que a maioria absoluta era a metade mais um. O mesmo cálculo válido para aprovar projetos em Brasília e condenar os indiciados por falta de ética ou decoro parlamentar.

Pelo jeito isso não vale por lá. Que minoria é essa que fecha acordos e absolve corruptos? Ou que subverte os preceitos aritméticos? Nunca tantos sofreram tanto por tão "poucos"...


O Velho e o Novo

Parece que sempre nos cobram um olhar no futuro, um pé no presente e a ruptura com o passado. Uma busca incessante da mutabilidade, da transformação. Nunca entendi essa batalha entre o velho e o novo. O futuro e o passado, a rigor, no momento presente, estão sempre a um segundo de distância, em ambos os sentidos.

Costumam dizer que aquilo que passou cumpriu seu ciclo. Mas nada se comporta exatamente conforme o desejado. Não moldamos o tempo, nem o manipulamos, ele apenas nos escapa. Os românticos já disseram que a vida é um estado de espírito. Acho que na verdade é um estado de tempo.

Tempo de dormir, tempo de acordar. Tempo de beber, tempo de comer. Tempo de viver, tempo de morrer. Essa sucessão de períodos, de atitudes, nos mostra que as certezas duram tanto quanto o instante atual. E que se apoiam em experiências distantes de nós apenas um mísero segundo. Mergulhar no passado ou nadar para o futuro? Talvez o leito do rio esteja seco.

Melhor caminhar então. Isso nos dá o ritmo preciso e a maravilhosa chance de parar, olhar para os lados, vislumbrar a retaguarda e sonhar com a linha do horizonte adiante.