terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mina e os Tatuís (Infantil)


Quando Mina colocou os pés descalços na areia, correndo até à beira-mar, sabia que algo incrível iria acontecer naquela manhã. A beleza do sol, do céu e da praia a encantavam, fazendo-a sorrir mais do que nunca. Não havia outro lugar que desejasse estar, ainda mais em dias tão ensolarados assim. Chegava sempre com essa impressão de aventura, de novidade, ansiosa pelas surpresas mágicas que a natureza pudesse oferecer.

Mas antes de continuar nossa história vamos ter de explicar algumas coisas. Na verdade, ela não se chama Mina. Esse nome lhe foi dado pelas criaturinhas que vai encontrar daqui a pouco. Sua idade também é um mistério, melhor que você decida isso. Agora pode considerá-la uma linda menina, bem pequena e esperta. Quando tiver de ir embora será mais velha, sabendo atravessar a rua e voltar sozinha para casa. Cada vez de uma maneira diferente, de acordo com a situação do momento. Talvez por isso tenha chamado a atenção dos que vivem embaixo da terra, porque eles procuram apenas pessoas especiais, como ela e você.

Mina foi correndo para perto do mar. Deixou a água cobrir seus pés, sentindo todo aquele frescor delicioso das ondinhas quebradas. Agachou-se e começou a seguir na areia molhada aqueles furinhos que apareciam aos montes quando a maré recuava. Começou a cavar em volta deles e não demorou muito a se deparar com alguns pequenos tatuís, aqueles bichinhos pequeninos, adoráveis e cheios de patinhas que vivem enterrados, colocando-os com cuidado na palma da mão.

Eles não demonstraram ter medo dela. Começaram a passear pelos seus dedos, com um deles se aventurando pelo seu pulso. Ficou ainda mais contente quando percebeu que os três usavam um chapeuzinho de cone, sem saber que era a última moda na Tatuilândia, terra natal deles.

-- Que bom que veio nos visitar, Mina! – disse o maiorzinho, falando bem baixinho. – Adoramos receber visitas.
-- Meu nome não é Mina... Vocês sabem falar? – espantou-se.
-- Claro! – disse o tatuí do meio. – Tanto quanto vocês sabem. Mas nunca prestam atenção na gente. E seus nomes para nós são diferentes. O seu é Mina.
-- O meu é Dingo! – disse o menorzinho, enquanto se equilibrava no dedo indicador dela.
-- Eu sou o Tuti – apresentou-se o do meio, fazendo cócegas ao correr de um lado para outro da mãozinha em concha.
-- E todos me chamam Zefi – contou o maiorzinho, demonstrando ser corajoso ao subir pelo braço da menina.

Mina sorria encantanda para os novos amiguinhos. Achava graça do modo como eles se equilibravam sem dificuldade na sua pele, na ponta das suas unhas, passeando sem qualquer cerimônia. Porém o que a deixava mais intrigada era sua capacidade de falar, de entender e ser entendida por eles. Imaginando que de hoje em diante poderia conversar normalmente com qualquer animalzinho que encontrasse, ela tratou de aproximar deles o rosto, pois sua vozinha não era muito forte, sendo abafada pelo quebra-mar e a brisa.

-- Vou visitá-los sempre – disse Mina, com o olhar maravilhado. – Ah, como eu queria um chapeuzinho de cone também!
-- São chiques, né? – comentaram os três ao mesmo tempo, cheios de si. – A última moda na Tatuilândia. Eles são feitos com restos de conchas e coloridos com algas, usando bigode de peixe como elástico – explicaram.
-- Muito lindos! Quero ir no lugar onde moram nas próximas férias. Quem sabe consigo um para mim?
-- Vamos adorar que nos visite – garantiu Zefi. – Mas está cada vez mais difícil arranjar um chapeuzinho de cone. A Tatuilândia já foi o melhor lugar do mundo para se viver. Tudo mudou de uns tempos para cá. Nem comida se consegue achar como antes.
-- Por que? – preocupou-se Mina.
-- Porque nem todos os seres humanos são do seu jeito, Mina. A maioria sequer repara em nós, não escuta nossos gritos. Eles sujam a praia e poluem as águas, tornam a vida impossível para todos os seres vivos. Se continuar assim a Tatuilândia e todos os demais reinos animais vão desaparecer.

Mina ficou com os olhos úmidos. Mergulhou com cuidado seu braço na beirinha do mar, para refrescar um pouco os tatuís e lavá-los da areia, com medo que sua pele delicada ficasse arranhada.

-- Queremos ser visitados e ouvidos – explicou Zefi, enquanto sacudia as gotas de água do corpo. – Nós gostamos de gente e queremos também que gostem de nós. E nos tratem bem, sem sujar nossa casa - lamentou-se Tuti.
-- Temos chapéus de cone para todo mundo... – completou o miudinho Dingo, sem esconder sua tristeza. – Somente as crianças nos escutam ainda, gente grande não liga que a Tatuilândia esteja sumindo...

Mina soprou um bafo quentinho para ajudar a secá-los e lhes dar um pouco de conforto. Estava comovida com tudo que escutara, com a preocupação agora substituindo o encantamento inicial.

-- Vamos fazer assim, meus amiguinhos – gritou Mina, excitada com uma idéia. – Hoje vocês vão visitar a minha casa. Não fiquem com receio, depois os trago de volta à praia. Vou mostrá-los aos vizinhos, a todos os moradores daqui. Vão pode falar o que sentem e garanto que eles vão ouvir.

Zefi, Tuti e Dingo pularam de alegria, rolando felizes pela palma da mão, se revirando por todos os lados, sem o mínimo receio. Adoravam Mina e confiavam em tudo que ela dizia. Com sua ajuda, haveria outra vez esperança para o futuro da Tatuilândia. E para todos os reinos animais desta e de outras praias, além dos reinos dos rios, florestas e montanhas.

-- Hora de irmos então, tatuizinhos – disse Mina, ternamente. – E no caminho vocês vão me explicando como se faz um chapéu de cone desses. -- Muito fácil! – exclamou Dingo.
-- Basta juntar um monte de caquinhos de concha e misturar com um pouco de cascalho... – continuou Tuti. -- Mas o truque mesmo para deixar no formato de cone é sempre... – começou a revelar Zefi.

E lá se foram conversando pelo caminho cheios de animação.

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