quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Carta do Leitor

Eu não estou desistindo, entende?

Isso jamais acontecerá. Nunca foi do meu feitio abandonar a perseverança. Mas quem vai avisar quando chegar a hora? Talvez possa me ajudar, dar uma sugestão. Sempre achei que tinha respostas sobre tudo. Mas nesse caso não sei mesmo de nada.

Fico achando que simplesmente não saberei. Que tudo irá como veio. Sem qualquer explicação. Sem ponto de partida ou linha de chegada. As trombetas vão ficar mudas, quietinhas.

Me ajuda, diz qualquer coisa, é tudo tão frágil... Vou reler conversas, olhar as fotos, escutar as músicas? Lembrar que vencia quase todos os jogos, menos aquele para descobrir a verdade? Atravessar as noites sozinho imaginando se já aconteceu? O pior nem mora nisso.

Não quero tomar seu tempo. Dizem que é coisa preciosa. Uns têm tanto, outros tão pouco. Parece final de festa. O tilintar dos copos sendo guardados, a louça sendo empilhada. Murmúrios em lugar de algazarra, sorrisos substituindo os risos.

Ao longe, uma gargalhada. Ainda há felicidade por aí. Talvez o dono dela tenha as respostas. Você parece não saber de nada. Te escrever foi inútil. Acho que não aprendemos a lição, deixamos de fazer o que podíamos.

Quem gargalha tão longe ouvirá nosso choro? Sabe me dizer ao menos isso? Estou exigindo demais de você. Vão tocar o réquiem e estaremos surdos. No fim de tudo acharemos que não passou de um delírio. As conversas em arquivos, as fotos recolhidas, as canções repetidas.

E você aí, assim como eu, enganado pelo tempo, driblado pela ilusão, sem idéia do que ocorreu...

Um abraço e até o futuro.

Um comentário:

Madalena Gatto disse...

E quando não se tem conversas ou fotos ou músicas para recordar? Quando ficaram apenas as dúvidas, as perguntas sem respostas, o vazio sem explicação? O dito pelo não dito, e a dor que não quer ir embora? Lindo texto como sempre... E não desista mesmo...