terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cristo no Monte das Oliveiras


Foi no Monte das Oliveiras, ou Getsenami, que Cristo iniciou sua suprema agonia. Após a última ceia, acompanhado de seus discípulos, para lá foi orar, como de hábito. Era chegada a hora de atravessar uma longa noite de sofrimento e dúvida, que culminaria com o beijo da traição, sua imediata prisão, e a preparação para enfrentar os três dias de flagelação vindouros.
Não existe provavelmente página de fé mais bela. A aproximação do sacrifício, da morte na cruz, confere uma tragicidade aos olhos humanos além do componente dramático. O Filho do Homem, o ente divino, aquele que tomou da carne e bebeu do sangue para estar entre nós, irá se comportar como um ser humano. O que apenas realçará a grandeza de sua missão, os ecos de sua mensagem.
Nunca achei necessária a ênfase na divinização de Cristo. Existem milhares de teorias sobre o assunto, alguns dizendo que essa visão foi decidida em concílios, que Jesus não seria “o” Filho de Deus, mas “um” Filho de Deus, como eu e você. A sua mensagem é imortal em si mesma, ultrapassa os tênues limites da religião. O humanismo que carregamos dentro de nós sabe que “não devemos fazer aos outros o que não queremos que nos façam”. Nessa lição elementar, embora esquecida freqüentemente, temos o resumo de 10, 20 ou 30 mandamentos, de quaisquer evangelhos ou livros sagrados. O cristianismo puro, aquele que não necessita camuflar-se em dogmas, rituais ou paramentos, em imagens ou basílicas, é simples, sintético.
Ao constatar na vigília do Monte das Oliveiras que “a vontade humana pode ser forte mas a carne é fraca”, Cristo percebia a fragilidade da mortalidade, os receios que fazem dos indivíduos objetos do medo, colocando-os num duelo cotidiano entre a emoção e razão, atos generosos e apaixonados. Sua trajetória divina de fato ou de direito é um dos maiores exemplos de humildade já legados. Continuou se surpreendendo e perdoando suas amadas criaturas terrenas, demonstrando que a verdadeira onisciência residia na concepção do amor incondicional.
A consciência que seria vendido por 30 moedas de prata ou renegado três vezes antes do amanhecer, se opunha às constatações práticas da fraqueza ante o sono daqueles que juraram que o guardariam até a aurora. Jesus Cristo, no zênite de suas aflições, demonstrava que também aprendia com seres imperfeitos, tornando próximos como nunca Criador e criatura. Essa demonstração de devoção suprema nos faz vislumbrar o paraíso na terra.
Quando no momento da redenção, na aproximação da morte crucificado, invoca o Pai em dois momentos opostos, perguntando primeiro “por que foi abandonado” e depois pedindo indulto “aos que não sabem o que fazem”, Cristo reafirma o pacto, a aliança eterna entre Deus e os seres humanos, pois ambos se tornaram unos. Toda uma tradição ganha vida e se eterniza na chama que brilha no interior de cada homem ou mulher. Enquanto existe vida, ela deve ser vivida na sua plenitude.
Assim, nas feridas espirituais do Getsenami ou nas chagas carnais do Gólgota, Cristo sempre renasce a cada Natal, confirmando que na amplitude de seu coração existem mesmo muitas moradas. Seja através do Pai, do Filho ou do Espírito Santo.

FELIZ NATAL PARA TODOS.

Um comentário:

Ellaine O'Hara disse...

Meu querido, meu amor:
Não deixe de escrever, por favor!
Eu leio tudo o que vc escreve. Não me deixe sem o seus textos porque quando os leio parece que tenho vc perto de mim.