terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Casa dos Tatuís (Infantil)



A Segunda Aventura de Mina e Seus Amiguinhos


- Puxa! Nunca imaginei que fosse tão fácil fazer os chapéus de cone! – comentou Mina, impressionada com a engenhosidade dos pequenos tatuís que carregava na palma da mão.

Os três encabularam, ficando com um tom rosado na pele lustrosa e reluzente. Ao mesmo tempo, não conseguiam esconder a satisfação de impressionarem alguém como Mina. A cada minuto eles gostavam mais e mais da menina que iria ajudá-los a resolver os graves problemas da Tatuilândia.

- Ninguém sabe quem fez o primeiro chapéu de cone, Mina. Mas os avós explicam aos filhos, que contam aos netos e assim por diante. Desde sempre nosso reino é o maior fabricante de chatuís que existe!
- Chatuís? O que é isso? – espantou-se Mina.
- É o nome que damos aos chapéus de cone – esclareceu Zefi. – Nossa família é fabricante de chatuís há muitas gerações. Tuti e Dingo são considerados os dois melhores chatuizeiros que surgiram nos últimos anos!

Os caçulinhas se encolheram, mortos de vergonha com o elogio do irmão mais velho. Mina achou muito fofinho aquilo e fez carinho neles com a ponta dos dedos.
Passava do meio-dia e o sol brilhava bastante forte. Mina tomava todo cuidado para proteger seus novos amiguinhos de uma insolação, pois viviam embaixo da terra e próximos do mar. Apesar dos chatuís ajudarem, estavam habituados com muito frescor e pouca claridade ao redor. Assim levantava a ponta da sua camiseta por cima deles, como se fosse uma barraca de praia. E utilizava sua garrafinha de água para borrifá-los e diminuir o calor.
Quando chegaram na casa onde morava com os pais e a avó, Mina colocou-os no murinho. Era uma rua tranquila e arborizada, sem muito movimento de carros, que permitia às crianças brincarem soltas e seguras. Na frente do terreno da casa existia um enorme gramado, com muitas árvores, algumas frondosas e outras cheias de deliciosos frutos. Um sistema de irrigação molhava as plantas naquele momento, acabando com sua sede e deixando o ar geladinho. Havia bastante sombra e soprava um ventinho bem gostoso. As folhas balançavam de modo suave e roçavam nos galhos fazendo um som engraçado.

- Parece barulhinho de sucrilhos na boca, né? – disse Mina, percebendo que os tatuís não tinham a menor idéia do que se tratava.

Ela correu até a cozinha, abriu a caixa de cereais e apanhou três sucrilhos. Eles deviam estar famintos, embora não soubesse qual o horário das refeições na distante Tatuilândia. Mas era um alimento nutritivo e saudável, que faria bem aos novos amiguinhos. Não podiam passar tanto tempo sem comer alguma coisa. Pegou também alguns para ela, pois sua barriga já estava roncando.
Zefi, Tuti e Dingo olharam curiosos para aquilo. Nunca tinham visto nada parecido antes. Para o tamanho deles, cada um valia uma refeição completa. Aos poucos, meio sem jeito, seguraram o sucrilho como podiam nas suas patinhas, lambendo de leve e achando o gostinho do açúcar delicioso. Era impressionante o modo que logo descobriram de agarrar facilmente aquela guloseima desconhecida.
Ela observava encantada eles roendo e mordiscando os sucrilhos. Dingo, apesar de ser o menorzinho, devorava o seu mais rápido do que os outros. Mas todos soltavam várias exclamações de felicidade, aprovando o sabor daquela estranha e maravilhosa comidinha. Para surpresa de Mina, quando terminaram pediram um repeteco e mais três sucrilhos sumiram, engolidos pelos simpáticos tatuís.

- O barulho é mesmo igualzinho ao das folhas! – confirmou o trio, achando muita graça naquilo. – Pena que não tenha sucrilhos na Tatuilândia!
- Zefi... Eu estava pensando...
- No que, Mina?
- Os tatuís são mais parecidos com gente do que muitos imaginam... Vocês falam, sabem fazer coisas e gostam de sucrilhos... A diferença é que são bem mais inteligentes... Porque se preocupam em cuidar da natureza.

Mina ficou triste e uma lágrima começou a escorrer pelo seu rosto. Os tatuizinhos, de coração partido e aflitos, limparam os farelos da boca e começaram a subir pelo seu braço, tentando fazer cócegas para que ela sorrisse. Zefi, o mais velho, procurou animá-la com receio que Tuti e Dingo logo começassem a chorar.

- Nós vamos dar um jeito nisso, Mina! Lembra do nosso plano de explicar aos adultos a necessidade de manter as praias, os rios e as florestas limpas? Foi uma idéia sua! Vai tudo dar certo! E nunca mais iremos nos separar!

Um sorriso mágico iluminou o rosto da menina, um traço belo e luminoso que era somente dela e encantava aos que a conheciam. Ela começou a concordar com a cabeça, recordando o que haviam combinado uma hora antes. Enquanto o sol se escondia atrás de uma nuvem, Mina irradiava toda a claridade do mundo através dos olhos doces e agora tranquilos.

- Vou fazer uma casinha para vocês aqui – afirmou Mina.
- Como assim? – perguntaram cheios de surpresa.
- Ora, tem muito espaço no nosso jardim! Naquele cantinho de terra perto das flores, basta deixar uma mangueira derramando água aos pouquinhos durante o dia. Coloco ainda uns tabletinhos de sal dentro do chuveirinho. Ela ficará molhada e salgada, como acontece na beirinha do mar. Será igualzinho ao lugar onde vivem e poderão passar mais tempo aqui, se enterrando nela quando sentirem vontade ou necessidade. O que acham? Querem ter uma linda casa de veraneio aqui, ao lado dos girassóis?
- Seus pais não ficarão zangados?
- Não! Eles são muito legais! E sabem que adoro bichinhos! Sempre permitem que eu traga para casa os que gosto. Além disso, se passarem mais tempo comigo, vamos poder começar a planejar hoje mesmo nossa campanha para conscientizar as pessoas da necessidade de conservarem as praias limpas. Concordam?
- Sim! – aceitaram felizes, correndo sem parar pelo bracinho de Mina.
- Vou colocar uma plaquinha ali dizendo: CASINHA DOS TATUÍS! Que tal a gente comemorar com uma nova rodada de sucrilhos?
- Viva! Três para cada um! – gritaram os tatuizinhos, agora os maiores fãs de sucrilhos, atirando os chatuís para o alto.
- Nossa! – riu Mina com prazer. – Melhor trazer logo a caixa...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mina e os Tatuís (Infantil)


Quando Mina colocou os pés descalços na areia, correndo até à beira-mar, sabia que algo incrível iria acontecer naquela manhã. A beleza do sol, do céu e da praia a encantavam, fazendo-a sorrir mais do que nunca. Não havia outro lugar que desejasse estar, ainda mais em dias tão ensolarados assim. Chegava sempre com essa impressão de aventura, de novidade, ansiosa pelas surpresas mágicas que a natureza pudesse oferecer.

Mas antes de continuar nossa história vamos ter de explicar algumas coisas. Na verdade, ela não se chama Mina. Esse nome lhe foi dado pelas criaturinhas que vai encontrar daqui a pouco. Sua idade também é um mistério, melhor que você decida isso. Agora pode considerá-la uma linda menina, bem pequena e esperta. Quando tiver de ir embora será mais velha, sabendo atravessar a rua e voltar sozinha para casa. Cada vez de uma maneira diferente, de acordo com a situação do momento. Talvez por isso tenha chamado a atenção dos que vivem embaixo da terra, porque eles procuram apenas pessoas especiais, como ela e você.

Mina foi correndo para perto do mar. Deixou a água cobrir seus pés, sentindo todo aquele frescor delicioso das ondinhas quebradas. Agachou-se e começou a seguir na areia molhada aqueles furinhos que apareciam aos montes quando a maré recuava. Começou a cavar em volta deles e não demorou muito a se deparar com alguns pequenos tatuís, aqueles bichinhos pequeninos, adoráveis e cheios de patinhas que vivem enterrados, colocando-os com cuidado na palma da mão.

Eles não demonstraram ter medo dela. Começaram a passear pelos seus dedos, com um deles se aventurando pelo seu pulso. Ficou ainda mais contente quando percebeu que os três usavam um chapeuzinho de cone, sem saber que era a última moda na Tatuilândia, terra natal deles.

-- Que bom que veio nos visitar, Mina! – disse o maiorzinho, falando bem baixinho. – Adoramos receber visitas.
-- Meu nome não é Mina... Vocês sabem falar? – espantou-se.
-- Claro! – disse o tatuí do meio. – Tanto quanto vocês sabem. Mas nunca prestam atenção na gente. E seus nomes para nós são diferentes. O seu é Mina.
-- O meu é Dingo! – disse o menorzinho, enquanto se equilibrava no dedo indicador dela.
-- Eu sou o Tuti – apresentou-se o do meio, fazendo cócegas ao correr de um lado para outro da mãozinha em concha.
-- E todos me chamam Zefi – contou o maiorzinho, demonstrando ser corajoso ao subir pelo braço da menina.

Mina sorria encantanda para os novos amiguinhos. Achava graça do modo como eles se equilibravam sem dificuldade na sua pele, na ponta das suas unhas, passeando sem qualquer cerimônia. Porém o que a deixava mais intrigada era sua capacidade de falar, de entender e ser entendida por eles. Imaginando que de hoje em diante poderia conversar normalmente com qualquer animalzinho que encontrasse, ela tratou de aproximar deles o rosto, pois sua vozinha não era muito forte, sendo abafada pelo quebra-mar e a brisa.

-- Vou visitá-los sempre – disse Mina, com o olhar maravilhado. – Ah, como eu queria um chapeuzinho de cone também!
-- São chiques, né? – comentaram os três ao mesmo tempo, cheios de si. – A última moda na Tatuilândia. Eles são feitos com restos de conchas e coloridos com algas, usando bigode de peixe como elástico – explicaram.
-- Muito lindos! Quero ir no lugar onde moram nas próximas férias. Quem sabe consigo um para mim?
-- Vamos adorar que nos visite – garantiu Zefi. – Mas está cada vez mais difícil arranjar um chapeuzinho de cone. A Tatuilândia já foi o melhor lugar do mundo para se viver. Tudo mudou de uns tempos para cá. Nem comida se consegue achar como antes.
-- Por que? – preocupou-se Mina.
-- Porque nem todos os seres humanos são do seu jeito, Mina. A maioria sequer repara em nós, não escuta nossos gritos. Eles sujam a praia e poluem as águas, tornam a vida impossível para todos os seres vivos. Se continuar assim a Tatuilândia e todos os demais reinos animais vão desaparecer.

Mina ficou com os olhos úmidos. Mergulhou com cuidado seu braço na beirinha do mar, para refrescar um pouco os tatuís e lavá-los da areia, com medo que sua pele delicada ficasse arranhada.

-- Queremos ser visitados e ouvidos – explicou Zefi, enquanto sacudia as gotas de água do corpo. – Nós gostamos de gente e queremos também que gostem de nós. E nos tratem bem, sem sujar nossa casa - lamentou-se Tuti.
-- Temos chapéus de cone para todo mundo... – completou o miudinho Dingo, sem esconder sua tristeza. – Somente as crianças nos escutam ainda, gente grande não liga que a Tatuilândia esteja sumindo...

Mina soprou um bafo quentinho para ajudar a secá-los e lhes dar um pouco de conforto. Estava comovida com tudo que escutara, com a preocupação agora substituindo o encantamento inicial.

-- Vamos fazer assim, meus amiguinhos – gritou Mina, excitada com uma idéia. – Hoje vocês vão visitar a minha casa. Não fiquem com receio, depois os trago de volta à praia. Vou mostrá-los aos vizinhos, a todos os moradores daqui. Vão pode falar o que sentem e garanto que eles vão ouvir.

Zefi, Tuti e Dingo pularam de alegria, rolando felizes pela palma da mão, se revirando por todos os lados, sem o mínimo receio. Adoravam Mina e confiavam em tudo que ela dizia. Com sua ajuda, haveria outra vez esperança para o futuro da Tatuilândia. E para todos os reinos animais desta e de outras praias, além dos reinos dos rios, florestas e montanhas.

-- Hora de irmos então, tatuizinhos – disse Mina, ternamente. – E no caminho vocês vão me explicando como se faz um chapéu de cone desses. -- Muito fácil! – exclamou Dingo.
-- Basta juntar um monte de caquinhos de concha e misturar com um pouco de cascalho... – continuou Tuti. -- Mas o truque mesmo para deixar no formato de cone é sempre... – começou a revelar Zefi.

E lá se foram conversando pelo caminho cheios de animação.