domingo, 13 de abril de 2008

Tempo de Drachmar (Conto)


Acontecia quando duas estações se confundiam, pareciam com uma terceira e ainda lembravam uma quarta, sem se misturarem ou desaparecerem. Você já presenciou algo assim, esteja certo. Caso duvide, foi apenas por não ter registrado corretamente na ocasião. Hoje, céptico e amadurecido, concluirá resoluto que nada disso existiu e estará redondamente enganado em seu julgamento. Errar é normal, não desista, principalmente ao vasculhar o passado. Tente de novo. A experiência encontra-se num canto abandonado das suas memórias, aguardando ser resgatada. O que mudou mesmo foram as certezas, o bom senso, o ponto de vista. Talvez se recorde um pouco agora. Uma repentina fagulha de intuição. Antes, entretanto, sem quaisquer compromissos, com muito chão à frente para sonhar, a receptividade em alerta e o olhar liberto de maiores expectativas, o fenômeno simplesmente existia e era reconhecido.
Uma vez a cada ano.
A neve derretia naturalmente, livre da presença do sol sufocante. Os pequenos veios de água riscavam tímidos seu percurso por entre as folhas murchas, desaparecendo e renascendo adiante, formando poças ou apenas umedecendo a terra. As flores desabrochavam vívidas mas não expulsavam os brotos das ramas, por sua vez riscando o espaço ao sabor da brisa. Os poros humanos comprimiam-se e dilatavam-se, acompanhando o respirar da sequência vital de segundo a segundo. O coração vencia convicto as fronteiras do organismo se integrando ao pulsar da natureza. E o raciocínio transbordava abundante, jorrava como uma decorrência onírica desta serenidade caótica, efervescente. As idéias eram puros veios poéticos, ao seu modo também riscando corações e mentes com sua textura indelével, profunda.
Assim, o fluxo sanguíneo irrigava a carne com o velho e o novo, o frio e o calor, oxigenando ainda o espírito com os desejos outrora impossíveis. Os opostos podiam conviver como grandes amigos ou parceiros fiéis, em harmonia, daqueles que nunca entrariam em conflito. As impressões constantes se revelavam como uma matéria-prima pronta a ser moldada segundo a vontade ou a sensibilidade dos que percebessem o momento especial. Os sonhos já não se manifestavam somente à noite, deixando generosamente a luz do dia encarregada de despertá-los. Os anos passavam como dias, as horas feito segundos, pois não existia o linear e o definitivo naquilo que todas as coisas se confundiam, pareciam e lembravam umas às outras.
Igual ocorria com tudo agora.
Era tempo de drachmar e a pequena Mirkha sabia disso. E sentia. A fagulha nela já se transformara em chama, prestes a atear o fogo inevitavelmente. O momento é ideal para apresentá-los. Ela é a carta de alforria da sua compreensão. O código através do qual decifrarão o que não entenderam. O botim para salvar dos recônditos do limbo aquelas memórias há muito esquecidas. Observando que em todo tratamento precisamos fazer a nossa parte, pois nada vem de graça, espero que aproveitem a oportunidade única. Agora vou deixá-los na sua companhia, certo de que irão apreciar tudo que irá lhes revelar, recuperando enfim uma dádiva eterna.
“Hoje posso ser uma bruxa”, refletiu. “De verdade mesmo. Mudar tudo não ferindo nada. Comer uma fruta sem morder a casca. Abrir um presente sem precisar rasgar o papel".
No último drachmar constatara extasiada, pela primeira vez, essa possibilidade. O filete vermelho viscoso escorrera do ventre pelas suas pernas, num fluxo contínuo, enquanto tomava banho no riacho. Fora boa a sensação do líquido morno misturado à umidade gelada do corpo. Não sentiu medo algum. Ou dor. Recordava bem do fato de correr nua e excitada até a avó para mostrar-lhe o prodígio: jorrara sangue do próprio corpo sem se cortar ou ferir-se! Ela já estava acamada então. Inerte. Com o olhar totalmente perdido no infinito e a fisionomia estranhamente plácida guarnecida em moldura pela vastíssima cabeleira branca. Porém naquela hora isso pouco importava. Aquilo que um dia lhe contara era verdade e ali, melada em sua pele, estava evidente a prova.
“Existe uma época, querida, em que tudo pode ser realizado. Ao fitar o céu de dia e conseguir ver a Lua, ao mergulhar na transparência da água e também apreciar o fundo arenoso, ao observar que o verão beija o inverno e a primavera abraça o outono, saberá que é drachmar. Os anseios da infância se materializarão nas aspirações do amadurecimento. De menina chegará à mulher em um piscar de olhos, não precisando descartar a pureza ou a inocência. Aí está o maravilhoso de drachmar. Você tornar-se sem perder, fazer sem alterar, transformar sem agredir. No entanto não é simples percebê-lo. Mas ele tem o hábito de revelar-se aos que possuem o dom, na hora propícia, através de sinais. Basta que você o procure muito atentamente, preparada para utilizá-lo corretamente”.
Essa conversa fora há dois anos, numa tarde chuvosa, e nunca mais lhe saíra da cabeça. Ou melhor, dois drachmar atrás. A avó nunca descuidara de sua instrução, mas tinha a capacidade de ensinar além do saber convencional. A casa era abarrotada de livros diversos, de origem ignorada, empilhados sem método ou ordem. Era fascinante vê-la utilizar seu discernimento telúrico para localizar em meio ao caos exatamente o volume desejado. Todos cheios de poeira e informações importantes, principalmente após serem explicados pela anciã. Espanando a sujeira com a palma da mão, seus dedos roliços percorriam as páginas emboloradas velozmente, como que filtrando o primordial. As lições diárias traziam sempre as portas de um novo universo. “Nunca seja escrava desse conhecimento”, insistia ela. “Há um prodígio maior lá fora, trate de encontrá-lo e também esteja pronta para ele”.
Passara as semanas e os meses seguintes de olhos bem abertos, com os ouvidos apurados, pesquisando ao seu redor como nunca o fizera. Precisava achar qualquer indício da chegada anual de drachmar e não perder a chance de operar milagres. De confirmar-se uma digna sucessora na linhagem familiar das bruxas. De assumir uma tradição que começara no instante em que a avó lhe retirara das entranhas da mãe e soprara a vida em sua boca. No mesmo dia em que herdara a condição de neta e de órfã, que se estendia por seus treze anos de vida.
Nesse meio tempo a saúde da velha deteriorara. À inércia juntaram-se primeiro o alheamento mental e depois o sofrimento físico. Uma mancha arroxeada, circular, tomava forma na altura do estômago, logo dominando toda essa área e se espalhando cada vez mais. O hálito contaminado bafejava a podridão do intestino, denunciando a doença desconhecida. As órbitas, comprimidas contra as pálpebras, lutavam incessantemente pela paz. O espírito, invisível e lúcido, testemunhava a batalha aos poucos perdida clamando por rendição ou no mínimo uma ligeira trégua.
A miúda, indiferente ao destino, gastava quase todo o tempo entre a cabana e o bosque catando raízes, trazendo água, fazendo a higiene, enxugando o suor, aplicando inúmeras compressas. Ao ferver a sopa que lhe dava todas as noites, escutava-a balbuciar frases desconexas, palavras ininteligíveis, raciocínios perdidos. Aflorava os sentidos tentando apreender um segredo que fosse no falar confuso. Sua feiticeira adorada conhecia drachmar e, ao abraçar-lhe o corpanzil na hora de dormir, rogava baixinho que o mistério se transmitisse no calor do contato.
A preocupação a tornava mais madura a cada dia. Também bastante cansada, embora sentisse uma estranha euforia tomar-lhe o corpo. Fazia tempo que, em face das inúmeras tarefas domésticas, largara os brinquedos de pano, convivendo com as calosidades que surgiam nos pés, nas mãos e nos joelhos. Descobrira no toque um conforto para a fadiga, apalpando áreas que lhe traziam agora uma sensação inusitada. Era bem gostoso massagear-se no banho e deixar aquele arrepio percorrê-la de alto a baixo, opondo tal alívio ao desconforto físico.
Além de tudo, ansiava apenas pela sua emancipação encantada, pelo momento que se tornasse apta a realizar os grandes feitos de qualquer bruxa na plenitude. Não mais visando concretizar seus inofensivos devaneios infantis de transmutar folhas mortas em flores perfumadas ou manipular o barro avermelhado em areia límpida. Mas somente esperando conseguir curar sua avó, libertá-la de quaisquer males, trazer-lhe o alento merecido. Afinal, se até mesmo ele proporcionava alguma melhora, sem nenhum talento mágico, que dizer dela, uma autêntica druida aguardando a eclosão de seus poderes? Não havia sequer termo de comparação entre ambos e a vinda de drachmar comprovaria isso.
Vez ou outra aquela enigmática figura de preto passava por ali.
Estacionava em frente à choupana sua carroça, cujo ranger denotava a urgência de óleo, puxada por um cavalo esquálido e exaurido, implorando descanso. Não conseguia proporcionar um mínimo de vitalidade ao próprio animal, no entanto se julgava capacitado a fazê-lo com seres humanos. Trazia uma pequena maleta de couro, gasta e abarrotada de apetrechos de metal. Podia se ouvir facilmente o tilintar enquanto ele caminhava ofegante até o interior do casebre, limpando a transpiração da testa, se escorando no umbral para respirar e sumindo ruidosamente no interior.
“Ele não é um de nós”, deduziu Mirkha, de imediato. “Se fosse não precisaria de objetos, faria tudo com os elementos. E sem nenhum barulho. Aliás, não consegue trazer novas energias nem para si mesmo”.
Espiando de longe ou aproximando-se silenciosamente da janela, vira todo o ritual de lavagem e cataplasmas aplicados na avó. Como tudo aquilo parecia trazer-lhe um relativo conforto, tratou de imitar dentro do possível, no cotidiano. Além disso, evitava cruzar com o estranho personagem. Ele a assustava bastante, embora ignorasse o porquê. Talvez o ar circunspecto, o olhar grave ou sua roupa tão escura.
Aliás, nunca lhe pareceu que a procurasse, muito pelo contrário. Ele sondava o ambiente como se adivinhasse a sua presença ou captasse o seu cheiro. E rezasse para não detectar um e outro perto de si, como quem pressente um fardo.
Porém um dia o encontro ocorrera, inevitavelmente. Ela se refugiara no seu recanto. Estava toda alegre montada no seu tronco junto ao regato, batendo ligeiro os pés no chão. Ultimamente descobrira um delicioso prazer em sentar sobre a madeira e balançar-se com as pernas abertas, num ritmo constante, sentindo o contato rígido esquentar as suas virilhas, pressionando-a de um modo diferente, agradável.
O gozo impediu-a de vê-lo chegando. Quando descerrou os olhos para a claridade, respiração ofegante, face satisfeita, testemunhou a censura estampada na sua frente. Por uma fração de segundo, um tipo de ternura acendeu o rosto dele para em seguida se dissipar. Levantou com a mão pálida seu queixo, obrigando-a a encará-lo quisesse ou não. O som da voz dele... Como esquecer o que disse então?
“Você é o retrato da sua mãe”.
A frase não surtiu o efeito que seria o normal. Mirkha tentou mas não pôde sorrir. Permaneceu imóvel, em transe, sem se desvencilhar do contato forçado.
“Terá de ir daqui, querida... Cedo ou tarde. Goste ou não. Sua avó está no fim das forças. Você não poderá cuidar-se sozinha. Acostume-se com a idéia. Só estou pensando na sua segurança, no seu futuro. Nada mais que isso... O mundo de verdade está lá fora, além desse bosque e da choupana que vive. O seu novo lar...”.
“Sabedoria de curandeiro”, pensou, quando ele se afastou tão rápido quanto surgira. “Eu nunca sairei desse lugar. Drachmar emana dessa terra. E uma bruxa não tem dificuldades de sobreviver. Consegue tudo o que necessita com um gesto. Posso me misturar entre as árvores e ninguém me achará. Me transformar em um animal e esconder-me numa toca. Fazer surgir asas nas minhas costas e voar a distância que convir. Basta que alcance o grau de iniciada, brevemente...”.
E, repentinamente, durante aquele banho no riacho, conforme sua boa mestra sempre previra, ela se tornara merecedora. Penetrara drachmar com naturalidade, só conscientizando o estado quando este já tinha se instalado em definitivo. Extraíra sua seiva de modo indolor, jorrara sangue de seu íntimo sem rasgar a pele, o simples toque do próprio corpo a enchia de grandes esperanças. Modificara drasticamente a sua integridade sem perda da serenidade ou agressão à individualidade. Drachmar!
Agora, meses à frente da conversão, ao iniciar-se um novo ciclo anual de feitiçaria, estava apta a exercê-lo. A fazer pela pobre avó o que esta não podia mais. Postando-se ao lado do leito da anciã, em vigília, retirou de uma cesta, ao invés de raízes, um apanhado de folhas secas; e, do cântaro, no lugar da água, um punhado de barro encarnado. Suspirou. Cuidadosamente cobriu o rosto enrugado e transtornado dela com algumas folhas, espalhando a seguir lama sobre o hematoma que borrava o ventre. Satisfeita com a arrumação dos elementos inclinou-se sobre o leito, sorriu cheia de otimismo e, concentrada, dedicou-se à transmutação desejada.
Contrita, fechou os olhos, apertou as mãos dela nas suas e aguardou a suprema metamorfose de drachmar que mudaria folhas em flores, barro em areia. Mil pensamentos e imagens povoavam sua cabeça em seqüência: cores, símbolos, rostos, bichos, o regato, o tronco, o filete de sangue... Percorria grandes distâncias, atravessava as estações do ano, se elevava até os astros e planetas mesclando-se às estrelas. Era uma visão deslumbrante de um universo inserido em caleidoscópio, sensorial ao extremo, de fronteiras transcendentais. Um mergulho na cachoeira cósmica, um passeio entre nebulosas longínquas e um labirinto repleto de cores, impulsionado pelo total desprendimento de doar-se a um bom objetivo, ao invés dos banais caprichos pessoais.
“É para você, vovó”, meditou, do fundo de seu ser. “Como na hora que me retirou do interior da mamãe e beijou a vida em mim”.
Minutos após, ao despertar da letargia induzida, viu, de maneira que juraria pelo resto de sua existência, a folhagem murcha adquirir viço, ganhar tons variados e desmanchar-se em pétalas aromáticas que expulsaram o cheiro ruim da boca. E, de forma conjunta, a lama rubra perder o rubor, refinar-se, sendo absorvida pela carne, tornando o ventre saudável, alvo, e apagando a nódoa avermelhada. Os ignorantes explicariam tudo como uma coincidência: diriam que a água desmanchou as folhas e criou um ligeiro perfume, lavando o mau hálito da enferma. Ou mesmo que a nova brancura da barriga se devia à coloração obtida na mistura da porção de barro umedecido com a pele ressequida. Entretanto, como explicamos no princípio, a memória nos prega suas peças, esconde a verdade e exibe fatos mal camuflados.
A pequena Mirkha testemunhara todo o processo. Assistia não apenas os traços de flores que emolduravam uma face enfim serena, assim como uma pele branca, desobstruída, similar a uma tênue mortalha que resguardava um corpo que encontrara sossego. Via e respirava, ao contrário da avó, não somente o odor que substituíra o bafo fétido, tal qual o frescor que emanava suavemente de cada poro desintoxicado pelo bálsamo que, ao esfarelar-se, conduziu-a de volta ao pó e ao descanso eterno.
Sim, ela assistira, sem qualquer dúvida ou engano. Melhor ainda, fora a responsável pela deslumbrante cura. Entretanto a maioria não poderia fazê-lo por não conhecerem os segredos de drachmar. Afirmariam que nada consistia além da fértil imaginação de uma menina solitária. Ou do produto casual de fenômenos naturais e de simples reações orgânicas. A rigor, a opinião alheia carecia de importância. Talvez um preço barato cobrado pelo indescritível bem-estar de ajudar e fruir aquela essência. Era delicioso viver em meio à natureza selvagem, sentindo no espírito toda a gama de prazeres agora evidentes, conduzindo seu instinto rumo às experiências inéditas. Os banhos de riacho e as cavalgadas no tronco jamais seriam as mesmas.
Saiu.
O êxtase pela cura da avó tomava conta dela. Sentia-se mais criança do que nunca todavia não extravasava como tal. A embriaguez total de drachmar a contagiava vibrando ininterruptamente. O sangue escorria em jatos pelas suas coxas confirmando o pacto mágico, lembrete que vinha se repetindo mensalmente. Ela era mulher e inocente, adulta e ingênua, uma sem sobrepor ou anular a outra. Tinha a capacidade de se metamorfosear em todo animal e ignorar a dimensão estática das distâncias. Voaria ao topo dos céus ou ainda afundaria nas águas sem dificuldade alguma.
Feliz, abraçou o verão e o inverno, beijou a primavera e o outono.
Acenou para a Lua que passeava acompanhada do Sol, mergulhou na areia e secou-se na água. Dançou com as coisas que se confundiam, pareciam ou lembravam entre si. Aquele era o seu pedaço de chão e permaneceria ali por toda vida. Riu da sisudez do homem sem nome e de suas preocupações relativas à sua sobrevivência. Um simples bater de mãos e teria tudo que necessitasse.
Saltou célere sobre o vento. Agarrou ágil inúmeros raios de luz, sem que se misturassem ou desaparecessem por entre seus dedos. Vestiu o corpo com nuvens, confeccionou um chapéu de fogo, fez anel e colares de sementes e cascas.
Detectou a alma da avó manifestando-se em tudo: saudável, sublime, livre, pairando sobre as estações, flutuando acima das folhas e das flores, do tronco e do riacho, reciclada à areia e ao barro numa fusão solene que acendia o otimismo.
Ela, Mirkha e drachmar estavam unidas para sempre.

3 comentários:

Profª Ellaine Américo disse...

Dos seus, o meu favorito.

Madalena Gatto disse...

Crescer pode ser difícil, às vezes até doloroso,mas todas as mudanças na vida o são, e acho que esta traz mais alegrias que tristezas, complicado mesmo é envelhecer,quando todas as esperanças e expectativas praticamente se perderam pelo caminho...
Mas gostei muito do conto,aliás dos dois, que misturam fantasia a uma realidade pela qual todos passamos.

E Bernal disse...

No momento estou fazendo uma viagem num mundo encantado nas páginas de uma literatura que estou descobrindo agora. E estou adorando fazer isso. Lendo aos poucos, já que está se tornando um livro de cabeceira. E aprendendo muito, algo que vem confortar essa minha alma ansiosa.

Um conto lírico cheio de ensinamento que quer a mim não ser aprisionado, mas acrescentado.

Agora não tenho mais como me desfazer dela. Faz para sempre parte do meu sonho e do meu mundo.