quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Preço do Pecado

Uma das expressões mais interessantes do cotidiano brasileiro é o "fui absolvido". Ela nunca está na boca do Zé das Couves, da Maria Candelária ou do Moleque Tião. Geralmente ela sai de uma garganta adornada por um colarinho branco, empunhando um diploma universitário ou um mandato político.
Nossos dôtores e ôtoridades parecem deter o monopólio dela, entre tantos outros. Acontece que, aqueles que ainda são donos do monopólio pessoal de pensar, e exercem esse direito sagrado, sabem que uma coisa é ser inocentado, outra é ser inocente. O emérito senador Renan Calheiros escapou da culpa, o que não significa que deixe de ser culpado.
Entre sessões e intenções secretas a famigerada ética (aquela ultrapassada invenção dos gregos antigos) vai se transformando numa qualidade em extinção. Ela é caçada, atingida e estripada a cada semana, no bojo de todo escândalo que surge. E que em seguida desaparece. Aquela festa eleitoral majoritária, ao qual nos convocam a cada quatro anos, provoca ressaca por todos os anos seguintes. Apesar disso, o Zé das Couves sai cedo de casa, apanha a Maria Candelária que fez serão no trabalho e carregam o Moleque Tião para testemunhar a festa da democracia.
Às 17 horas, com a cidade imunda de santinhos e panfletos, a festa popular acabou e começa uma mais requintada. Toda regada à champanhe e caviar, cheia de gente elegante e bonita, ao menos nos olhos de quem deseja assim enxergar. Quatro anos estão garantidos para muitos, sem falar nos que, como o notável senador Renan Calheiros, abiscoitaram oito. Esses mesmos que não lhe tomaram hoje. Afinal, sob sete chaves, sem câmeras ou holofotes, ele foi absolvido.
Como não dispomos mais dos gregos de outrora para protestar, precisamos nos ater ao passado mais recente. Me lembro que nossos avós ensinavam que julgar as pessoas era errado. Que isso não se fazia, constituía uma coisa feia aos olhos de Deus, um pecado.
Entretanto, assim como os gregos e sua filosofia foram colocados de lado, hoje vou fazer igual com os ensinamentos familiares. Dessa forma, mesmo absolvido, afirmo que para mim aquele admirável senador Renan Calheiros é culpado, não merece meu respeito como homem público, doutô ou ôtoridade.
Se pensar assim é pecado, deve haver um preço. Verifica na tabela que eu pago por ele.

P.S. Quarenta votos a favor do Senador... Como era o nome daquele conto das Mil e Uma Noites? Ah, sim, Ali Babá e os 4o Ladrões!

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