quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ecos do Silêncio

Dizem que o silêncio grita, a ponto de doer.
O que se deve entender dele quando ensurdece nossa percepção? Na verdade, pouco me importa essa compreensão. Ele fere e magoa. Nos traz dúvidas e incertezas. Diferente do silêncio interior. Neste existe uma opção pela serenidade. Uma busca de equilíbrio, a redenção pela introspecção voluntária. Não necessitamos estar mudos para alcançá-lo. Nem nos isolarmos dos outros.
O exemplo de santos, filosófos ou iluminados de qualquer tipo não se encaixa na maioria dos seres humanos. Sentar sob uma árvore até reavaliar o mundo ou escalar a montanha mais alta são artifícios aquém do cotidiano. Sempre foram belas alegorias, ilustrações simplificadas de uma mandala de intenções e angústias. Às pessoas Deus concedeu os semelhantes, em diversos níveis. Familiares, amigos, conhecidos, colegas e, principalmente, aqueles com quem exercemos o sentimento do amor, seja romântico, sensual ou carnal. Melhor ainda quando encontramos os três num só, qual uma Santíssima Trindade terrena.
Normalmente o ego nos afasta dessa conscientização. Mais ainda quando acompanhado do medo. O sentido messiânico de nos acharmos em provação, a concepção de sofrimento como um teste de superação, anula tudo aquilo que de divino foi insuflado em nosso espírito. O temor, em complemento, camufla toda expressão exterior, cancela tragicamente os sonhos latentes. Deus não duvida da nossa devoção, sequer necessita de provas ou sacrifícios. Ele lê o âmago das almas, varre toda a extensão dos corações. Quer que sejamos felizes exercendo aquilo que tinha em mente quando nos criou: a capacidade de amar. Como pais, irmãos, parentes, vizinhos e também parceiros de alguém.
Religiões tradicionais, institucionais, jamais tiveram as respostas. Quando muito elas fabricam explicações. No entanto, induzem más avaliações ou equívocos. Assim, o silêncio, seguido do afastamento, pode ser a negação da verdadeira tarefa que nos foi delegada.
E ele pode ecoar de modo tão intenso que é capaz de abafar os autênticos chamados da nossa essência original.

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