quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Um Texto Sem Nome

Sonho com um texto sem nome, desprovido de assunto.
Uma ausência absoluta de ponto de vista, de figuras de linguagem, de convicções espalhadas por algumas linhas. Ele talvez garantisse seu lugar na eternidade, pois nunca envelheceria. Seus conceitos vazios permaneceriam eternamente. Não iria sofrer com modismos ou dissolver-se sob a inexorável mudança dos costumes. Ninguém seria capaz de estabelecer a data da sua morte porque a rigor jamais teria nascido. Um produto da mais completa atemporalidade, do nada absoluto.
O coração precisa aprender tais lições. Despir suas emoções por inteiro, ignorar a infância, a adolescência, a maturidade e a velhice. Beber esse elixir da vida eterna e viver na ilusão da imortalidade. Principalmente, desconhecer o amar, o sofrer, o recordar e o querer. Aquilo que nos envelhece e dissolve as esperanças. Muitas pessoas conseguem isso bem facilmente, não precisam de poção redentora alguma.
Tais escolhidos se apoiam simplesmente na certeza de que as coisas são como devem ser. Quem acompanhou, ótimo, os que não conseguiram, paciência. Só vai lhes restar aprender lições que jamais pediram, descobrir sentidos ocultos para sua percepção. E aplaudir o ar de confiança, superioridade ou fatalismo de seus mestres, sem a desculpa de desconhecerem que participavam de algo maior, de um requintado processo de vida.
Até lá, só lhes resta mesmo é idealizar textos anônimos, carentes de substância, inutilmente.

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